A caixa de pandora é o mito que reflete uma grande misoginia: uma mulher que por causa de sua curiosidade abre uma caixa, mesmo com ordens para não abrir, e assim liberta de seu interior todos os males até então desconhecidos pelos homens (doenças, guerra, mentira, ódio, etc.). Como Eva, Pandora é a causa da desgraça do mundo e não de sua salvação. Revertendo essa ideia, prefiro pensar que a curiosidade e a caixa são motivos de libertação dos nossos problemas. Proponho assim o seguinte projeto performático-poético: uma mulher anda com uma caixa repleta de textos (conhecimento!) escritos por mulheres, proibidos pela ditadura e importantes para o feminismo em Portugal, para fazer a leitura desses mesmos textos em vários locais públicos, em voz alta/no microfone, para todos ouvirem. Não se trata mais trazer des-graça para o mundo, mas de libertar as vozes dessas mulheres, tantas Pandoras, que sofreram com a repressão machista ao abrir os seus pensamentos para o mundo. Para isso, serão lidos textos, poemas, cartas que foram publicados nas "Cartas Portuguesas" (Soror Mariana Alcoforado), "As novas cartas portuguesas" (Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno) e também as poesias diversas de Natália Correia.